Até agora só temos a imagem artificial criada para a pré candidata de Lula e do PT. Sabemos que, sem essa imagem criada pelo marketing, ela uma mulher braba, impaciente, centralizadora e autoritária. E que até agora não a deixaram mais à vontade, para ser o que realmente é, uma ex-guerrilheira com uma personalidade irascível, nada dada à conchavos, que não divide o poder com ninguém e se revela muito ciosa de sua autoridade.
Ex-militante da POLOP (Política Operária), e da COLINA (Comando de Libertação Nacional) e da VPR-Palmares (Vanguarda Popular Revolucionária), Dilma foi condenada em alguns processos e absolvida em outros, tendo saído do presídio Tiradentes no final de 1973. Sabe-se que foi torturada com palmatória, socos, pau-de-arara e choques elétricos, mas não a fizeram sentar na “cadeira dragão”. Em seus depoimentos judiciais, denunciou as torturas e deu o nome de oficiais militares que deles participaram, por ação ou omissão. Depoimentos de colegas dizem que “ela era uma companheira muito séria e dedicada, que acreditava no que estava fazendo”. O capitão Carlos Lamarca, desertor do Exército Brasileiro, líder da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), confessou que “Dilma era agressiva verbalmente. Mas, tinha certa fragilidade, algo como uma adolescência não realizada”. Para Carlos Lamarca, Dilma era uma “metida a intelectual”.
A VAR-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária), de extrema esquerda radical, que visava a instauração de um regime de inspiração soviética no Brasil, surgiu em 1969, da fusão da COLINA com a VPR. O grupo de que fazia parte, o VAR-Palmares foi dividido em duas facções, os “basistas”, que defendiam o trabalho de “massas”, com as “bases”, e os “militaristas”, que advogavam a prioridade da luta armada. Sabe-se, hoje, que Dilma se bateu contra o militarismo, (de Lamarca), defendendo que também se desse importância ao trabalho político. Em outros termos, para ela, “a luta de massas era mais importante que a luta armada”, segundo o ideário leninista, contrario ao ideário de Trotsky, que pregava a “revolução armada permanente”.
A leitura de um dos inquéritos policial militar sobre o VAR-Palmares e a participação de Dilma, revela que ela “manipulava grandes quantias da organização. É antiga militante de esquemas subversivo-terroristas”. E que era “uma das molas mestras e um dos cérebros dos esquemas revolucionários postos em prática pelas esquerdas radicais. Trata-se de pessoa de dotação intelectual bastante apreciável”. Em outros inquéritos do gênero, Dilma foi chamada de “Joana D`Arc da subversão”, “papisa da subversão”, “criminosa política” e “figura feminina de expressão tristemente notável” .
Dizem que, Dilma, a ex-aluna do tradicional Colégio Sion, teria participado do assalto à casa de uma amante do ex-governador de São Paulo, Adhemar de Barros. Do cofre da residência, foram roubados US$ 2,4 milhões. Não é uma lenda urbana, mas um fato comprovado, e contra fatos não há argumentos convincentes. Como Dilma costuma dizer que “só ajudou no planejamento”, há quem diga que ela participou diretamente na ação. E o que dizer dos assaltos em três bancos? Dilma também teria ajudado apenas no planejamento desses roubos? E o que dizer da suspeita de roubo de carros? Seja como for, ela foi expulsa da Faculdade de Economia de Belo Horizonte, por sua atuação política. Mas, mais tarde, teria concluído o bacharelado em Economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) A história de ter feito mestrado e doutorado em economia não procede.
Sabe-se que era ela a responsável pela guarda das munições e armas, numa pensão localizada na av. Celso Garcia (zona leste de São Paulo), onde morava com Maria Celeste Martins, hoje sua assessora. Numa entrevista de 2003, ela confessa que “carregava munição em um balde (...). “As armas, nos errolamos em um cobertor”, colocado em baixo da cama. “Era tanta coisa que a cama ficava alta (...) “Os fuzis automáticos leves, que tinham sobrado para nós, estavam todos lá. Tinha metralhadora, tinha bomba plástica”.
Dilma chegou a Brasília no fim de 2002, retirada do anonimato por Lula. Na solenidade de posse como ministra da Casa Civil, cargo ocupado anteriormente por José Dirceu, este afirmou: “Estou passando o cargo para a camarada de armas e companheira de lutas”. Hoje ela mora na mansão, onde residiu Dirceu, no Lago Sul, bairro nobre de Brasília.
Dizem que na chefia da Casa Civil, Dilma é tão obsessiva na cobrança de horários e tarefas, quanto nos tempos da guerrilha. Há petistas que afirmam que ela “é muito democrática, desde que você concorde 100% com ela”. E mais: “Ela é mandona mesmo, chega a ser chata”. O coordenador da ONG Greenpeace, Marcelo Furtado afirma que “demovê-la de uma decisão é difícil”. E que “Dilma é uma decepção para as entidades ambientalistas. Para ele, a ministra vê a questão ambiental um freio ao desenvolvimento: “Ela defende grandes hidrelétricas em vez de pequenas, com impactos ambientais reduzidos”. Na verdade, Dilma ganhou em 2005 o troféu Motosserra, instituída pela ONG Rede Mata Atlântica. A premiação é uma homenagem a quem concorre para a destruição do meio ambiente.
Eis um resumo da verdadeira Dilma Rousseff. Um currículo de guerrilheira. E aqui cabe uma pergunta: Basta ser guerrilheira nos “Anos de Chumbo”, para ter competência para ser presidente da República? Mas, Lula já dissera que “se eu soubesse antes que ela era tão boa não teria sido candidato”. Boa no quê e de quê? Tudo bem, mas porque razões (sérias e fundamentadas) nós brasileiros deveremos escolher Dilma para presidir o Brasil? O que sabemos é que Lula parece confiar em Dilma porque ela, ao contrário de José Dirceu, não tem projeto político próprio. E nas entrevistas não sabe do que está falando, como quando fala de reformas. Quais são as suas propostas? Aumentar a arrecadação? Isso não é uma reforma tributaria. Lembrem-se que Dilma passou oito anos como uma das principais integrantes do governo Lula e não fez nada, ficando nos bastidores e ganhando muito bem. E agora, discorda das políticas do seu mentor e padrinho e promete promover mudanças substanciais. Quais?
Ela não deseja ser política (como já confessou). Realmente nunca ocupou cargo eletivo, nem de simples vereador. No fundo, o que ela quer mesmo é só mandar. Daí esse anseio por um Estado forte.
Será por que ela é mulher? As mulheres hoje estão fazendo sucesso como governantes em praticamente todo o mundo. Ou porque Dilma, como revolucionária, tem “certeza” de que sabe como consertar esse País, e se for eleita, o seu conselheiro será o ex-ministro da Fazenda, Antonio Palocci, aquele que não foi responsabilizado pelos escândalos ocorridos no caso do caseiro Francenildo dos Santos Costa, (mas as suspeitas permanecem), e que tem a pretensão, hoje, de ser candidato a governador do Estado de São Paulo. Ou, ainda, porque, no fundo “ela ama Lula, seu ídolo, seu símbolo do operário mágico, que encarnou na prática a vazia utopia do populismo revolucionário”, como disse Arnaldo Jabor.
Se Lula era metalúrgico, porque não uma ex-guerrilheira? Afinal, Lênin já afirmara: “Qualquer cozinheira devia ser capaz de governar um país”. O problema é que a pré-candidata lulista, se eleita, deseja um Capitalismo do Estado, um patrimonialismo estatal, ou seja, uma mudança radical na estrutura do governo democrático. E o golpe é o proposto pelo filósofo italiano Antonio Gramsci: “os comunistas devem se infiltrar na democracia para mudá-la”.
Enfim, não há como negar que Dilma Rousseff está sendo “convertida”, em “salvadora da pátria”, em “milagreira”, formada por uma propaganda enganosa, que irá operar no País um milagre político e econômico, um caso fora de toda evidência sociológica e política. O mais provável, no entanto, é que não consiga, porque continuamos apesar de tudo, a não saber quem ela é, e o que pretende mesmo realizar. O marketing como está sendo realizado, induz o eleitor a ver e compreender uma outra realidade, que é de ordem artificial, pois a informação real e verdadeira está sendo excluída do cidadão brasileiro. E o pior num total desrespeito a Lei Eleitoral. Ora, se a Lei Eleitoral não vale e a Constituição Federal não existe, tudo o mais é permitido. Lula tornou-a inadequada porque resolveu antecipar a campanha e revogou a norma na força. É de se perguntar: “Estabelecida a ocorrência do ilícito, pode o presidente continuar a agir ao arrepio do princípio maior da legalidade seja qual for a lei transgredida?”
Como já foi afirmado pelo presidente nacional da OAB, Ophir Cavalcanti, nesta campanha há uma total falta de transparência política. Estão usando de “práticas que transformam milionárias verbas publicitárias em instrumento promocional e que, na ausência de mecanismo de transparência, alimentam o famigerado caixa 2 (como já ocorreu nas campanhas de Lula) e os abusos do poder”.
Em Nova York, numa viagem para prestigiar a premiação de Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, na verdade uma oportunidade da pupila de Lula se apresentar indiretamente, como pré-candidata à presidência, aos investidores norte-americanos, não houve nenhuma cobertura jornalística (o Wall Street Journal, na semana da visita da petista, simplesmente a ignorou). Enfim, não causou nenhum impacto. Em primeiro lugar, porque ela é realmente uma desconhecida; em segundo, os investidores, nos EUA não se preocupam muito com a economia brasileira, mesmo com a recente reportagem da revista The Economist com criticas à política econômica brasileira. O que a imprensa e o mundo acadêmico estão preocupados é com a política externa brasileira, com artigos negativos sobre as atitudes diplomáticas do governo brasileiro, onde se demonstra “que não houve avaliação adequada dos prejuízos que o apoio ao Irã poderia trazer ao Brasil”.
Mas, apesar de tudo, por que Dilma cresce nas pesquisas? Simplesmente porque ela fala coisas populares, muitas vezes paternalísticamente, como Lula. Fala, demagogicamente, cada vez mais de coisas, que poderiam ser e acontecer (e como sempre, muitas promessas), que as pessoas querem ouvir, não importa se dará certo ou não, mas que agrada a população pobre, que é a grande maioria do eleitorado, que vê Dilma, mas pensa em Lula.
(João Ribeiro Junior é advogado e professor universitário.)
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